Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira

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Muito obrigada poeta Divino por me dar a oportunidade e a honra de compartilhar

um momento poético, através de sua encantadora comunidade!

O meu carinho, a todos que passarem por aqui!

Boa leitura!







O Pequeno Príncipe

Antoine de Saint-Exupéry


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Menino pequeno, perdido no mundo

sozinho e cercado de imagem e ilusão,

vagando, vagando sem número e data,

descobre a verdade no meio do chão.


Descobre na terra, de olhos pr'o ceu,

pequeno menino perdido e sozinho,

reinados de estrelas, de sóis e de flores,

poemas ficados na cruz de um caminho.


Menino pequeno, sozinho encontrou

prazer escondido de olhar e sonhar

viver e cantar, beijar e reinar,

deitar e chorar, num berço de ar


Menino tão só, perdido e pequeno

que veio do ceu, que acaba no mar,

com um sopro retira, do chão, essa gente

e ensina que é fácil ter asa e voar


Menino sozinho, no mundo perdido

Menino perdido, pequeno e querido.








Poema XVIII

Pablo Neruda

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Aqui eu te amo.

Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforece a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.


Descinge-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.


Ou a cruz negra de um barco.

Só.

As vezes amanheço, e minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.


Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.


Já me creio esquecido como estas velha âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta..

Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.


Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua arruela de sonho.


Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.







Tarde de música

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Só Schumann, meu Amor! Serenidade...

Não assustes os sonhos...Ah! não varras

As quimeras...Amor, senão esbarras

Na minha vaga imaterialidade...


Liszt, agora o brilhante; o piano arde...

Beijos alados...ecos de fanfarras...

Pétalas dos teus dedos feitos garras...

Como cai em pó de oiro o ar da tarde!


Eu olhava para ti..."é lindo! Ideal!"

Gemeram nossas vozes confundidas.

-- Havia rosas cor-de-rosa aos molhos --


Falavas de Liszt e eu...da musical

Harmonia das pálpebras descidas,

Do ritmo dos teus cílios sobre os olhos...


Florbela Espanca







A Beleza

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Eu sou bela, ó mortais! Como um sonho de pedra,

E meu seio, onde todos vêm buscar a dor,

É feito para ao poeta inspirar esse amor

Mudo e eterno que no ermo da matéria medra.


No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;

Conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;

Odeio o movimento e a linha que o descreve,

E nunca choro nem jamais sorrio a nada.


Os poetas, diante de meus gestos de eloquência,

Aos das estátuas mais altivas semelhantes,

Terminarão seus dias sob o pó da ciência;


Pois que disponho, para tais dóceis amantes,

De um puro espelho que idealiza a realidade:

O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!



Charles Baudelaire

As Flores do Mal







A Demora

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O amor nos condena:

demoras

mesmo quando chegas antes.

Porque não é no tempo que eu te espero.


Espero-te antes de haver vida

e és tu quem faz nascer os dias.


Quando chegas

já não sou senão saudade

e as flores

tombam-me dos braços

para dar cor ao chão em que te ergues.


Perdido o lugar

em que te aguardo,

só me resta água no lábio

para aplacar a tua sede.


Envelhecida a palavra,

tomo a lua por minha boca

e a noite, já sem voz

se vai despindo em ti.


O teu vestido tomba

e é uma nuvem.

O teu corpo se deita no meu,

um rio se vai aguando até ser mar.



Mia Couto








Amor

Álvares de Azevedo


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Amemos! quero de amor

Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor

Que desmaia de paixão!

Na tu’alma, em teus encantos

E na tua palidez

E nos teus ardentes prantos

Suspirar de languidez!


Quero em teus lábios beber

Os teus amores do céu!

Quero em teu seio morrer

No enlevo do seio teu!

Quero viver d’esperança!

Quero tremer e sentir!

Na tua cheirosa trança

Quero sonhar e dormir!


Vem, anjo, minha donzela,

Minh’alma, meu coração…

Que noite! que noite bela!

Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento,

Da noite ao mole frescor,

Quero viver um momento,

Morrer contigo de amor!



Álvares de Azevedo








Bilhete em Papel Rosa

Adélia Prado


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A meu amado secreto, Castro Alves.


Quantas loucuras fiz por teu amor, Antônio.

Vê estas olheiras dramáticas,

este poema roubado:

"o cinamomo floresce

em frente ao teu postigo.

Cada flor murcha que desce,

morro de sonhar contigo".

Ó bardo, eu estou tão fraca

e teu cabelo tão é negro,

eu vivo tão perturbada, pensando com tanta força

meu pensamento de amor,

que já nem sinto mais fome,

o sono fugiu de mim. Me dão mingaus,

caldos quentes, me dão prudentes conselhos,

eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,

a tua boca de brasa, Antônio, as nossas vias ligadas.

Antônio lindo, meu bem,

ó meu amor adorado,

Antônio, Antônio.

Para sempre tua.



Adélia Prado







Não Estejas Longe de Mim um Dia que Seja

Pablo Neruda

in "Cem Sonetos de Amor"


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Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,

porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,

e estarei à tua espera como nas estações

quando em algum sitio os comboios adormeceram.


Não te afastes uma hora porque então

nessa hora se juntam as gotas da insonia

e talvez o fumo que anda à procura de casa

venha matar ainda meu coração perdido.


Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,

ai que na ausência as tuas pálpebras não voem:

não te vás por um minuto, ó bem-amada,


porque nesse minuto terás ido tão longe

que atravessarei a terra inteira perguntando

se voltarás ou me deixarás morrer.





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