não estou espelho, não sei o que vejo: é uma espécie de bicho maquiado e vaidoso é horroroso e se parece obscuro; é uma espécie de flor florescendo e abrindo é lindo e se parece pintura; é uma espécie desconhecida calma e abusiva é erosiva e se parece loucura;
era como ele me fazia rir não o riso, mas era como ele me afundava as mãos e me torturava de cócegas nunca foram as gargalhadas era essa maneira única em que ele me tirava todo ar e me matava por um triz era como me fazia tão feliz antes e depois de um sorriso
eu te escrevo, embora ninguém entenda que nesse silêncio te revelo meus segredos; escrevo e te amo, porque não há outra forma de passar pela vida se não passares comigo; me guarde perto das coisas que levaste para contar quando tudo já estiver tarde; me eternize num feliz retrato que nenhum poema ainda conheceu, pois que é só teu meu riso; não me esqueça, não me deixa, nem parta, porque agora a inspiração é farta de tanta rima que surge no teu beijo; e quando te tenho, e te recebo, e vens me invadindo o mundo ah, por esse segundo eu daria a eternidade inteira.
Ele dedilha minha nuca, move delicadamente os cachos de meu cabelo, depois me beija as costas inteira, me tatua na sua boca, respira minha pele feito flor, depois me vira, depois me pesa, e assim acordo nesse enroscar de pernas, em que ele me suga e bebe como um doce licor e eu afundo as mãos nos lençóis bagunçados para acalmar meu tremor
Não há mais nada para acontecer Nada que não seja previsto Nada que possa surpreender Não espanta flores nascendo nas calçadas Não apavora estrelas novas sendo penduradas Nem o corpo vencendo a física Nem o cego lendo mímica Nem a ciência na sua vã experiência e sua cara de reticências nas coisas que o amor pode fazer... O mais impossível era esse encontro Entre tantos desencontros, Entre tudo que não tinha nada a ver, Só tinha que ser você para ser inesperado E agora que venha o que vier Porque de resto nada além, Agora o que vem já é esperado
Nunca soube o que fazer com os espaços que ficam depois que alguém vai embora uma dúvida insiste e de tanto, o meu tentar desiste de trocar a ausência por qualquer coisa que fira menos: nada para repor nada para suprir nada que realmente comportasse o encanto de algo que ficou para trás
Eu hei de escrever teu nome Num pedaço de vento Na lista do mercado Num importante documento E eu hei de tatuá-lo Enquanto pulsa meu coração Por toda minha mente No ar de meu pulmão Só para não esquecer Esse teu doce nome Que sempre consome Toda minha inspiração
Meu choro é uma flecha Que rompe a noite entristecida Deslizante e fria lágrima Surgindo dos olhos, Caindo sobre a face Mergulhando no vazio de minhas mãos
Deve chorar quem dor sente E se não sente, não há amor Se do céu estrelas nascem Esperançosas, se jogam as cadentes Todo corpo é um astro ardente Que de desejo inflama e queima
A noite, então, é duas Duas luas num só céu De uma lado está quem chora Do outro quem ri e dorme em paz Há dois corações separados Em dois peitos, um só amor
A lágrima sempre persiste No sentimento em bom momento Ou na falta de um outro alguém E descubro que posso parar agora Mesmo nesta noite em que fico Há uma lua (talvez duas) radiando luz.
Nenhum dia se vai Sem que eu lembre teu nome Sem que eu te pertença infinitas vezes Sem que eu me afunde em teu amor. Cada dia é cheio dessa espera De que eu abra meus olhos E te encontre perto de algum céu Onde eu possa colorir teus lábios Com beijos feitos de canção Onde eu possa me prender ao teu corpo Com laços vermelhos invisíveis de paixão Sim, meu amor, Nenhum dia se vai Sem esse céu que invento, Sem que eu perceba Que a única forma de te tocar É através das poesias Que ao entardecer te escrevo...