O pior é que, no fundo, não quero ser nada. Nadinha.

E com isso não quero dizer que não há o que eu queira ser. Quero dizer, simplesmente, que não quero desejar ser qualquer coisa. 

Muito complicada, a minha situação.

Pus vírgula ali porque aquilo é um aposto explicativo.

Então, além de não contar com a vontade espontânea de ser algo, também não conto com a vontade de ter vontade. Que putaria. Não quero ter vontade.

O meu desinteresse pelas profissões, constatei esses dias, é coisa insuperável.

Por esse esquema de vida, mesmo.
Foda é que quero ter condições de viver bem - e viver bem não implica ser rico ou coisa que o valha, mas simplesmente gozar de capital suficiente para levar uma vida digna, né, e não o que chamam de "sobrevivência". Não quero sobreviver. Quero viver.

Não quero ser escrava de um emprego. Não quero viver em função de ter dinheiro, status... E, no entanto, esta realidade é tão tentacular.

Quando pensamos que não, pimba!, já estamos reféns disso.

Ainda que evitemos, caímos vítimas dessa realidade muitas vezes.