Uma das líderes do povo indígena Kaiowá foi assassinada com 35 facadas e seu corpo encontrado nu, no último sábado (1), às margens de uma rodovia nas imediações de Dourados, Mato Grosso do Sul.
A kaiowá Marinalva Manoel, 27 anos, foi esfaqueada nas regiões do tórax, pescoço, rosto e mão esquerda, segundo a polícia. Os golpes desferidos na mão sugerem que a indígena foi surpreendida e tentou se defender do ataque.
O corpo da indígena foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) para averiguar se houve abuso sexual. O caso será investigado pela 2ª Delegacia de Polícia de Dourados.
Marinalva e seu povo reivindicam cerca de 1.500 hectares, quase todos ocupados por uma empresa de cultivo de grama. A área, embora em processo avançado de demarcação, também sofre pressão de fazendas vizinhas e até de um projeto de loteamento, já que está bem próxima do casco urbano.
A indígena morta lutava pela demarcação da terra indígena de Nu Porã e compôs a comitiva que, junto a integrante do Grande Conselho Guarani-Kaiowá da Aty Guasu, esteve em Brasília há cerca de 20 dias para manifestar repúdio à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de anular o processo de demarcação da terra indígena Guyraroká.
Na ocasião, segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), os indígenas denunciaram o aumento da violência direta e indireta praticada pelos fazendeiros contra as terras dos povos originários.
Em nota divulgada ontem, a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, pediu “rigor” e “celeridade” na investigação do assassinato da indígena.
Nadine afirma que a kaiowá Marinalva Manoel era uma “mulher jovem obstinada que ousou defender os direitos dos povos indígenas, inclusive o de garantia à terra, e de sua ancestralidade, como ocorreu em 15 de outubro passado, quando esteve em Brasília como parte de comitiva indígena reunida com representantes do Judiciário”.
A kaiowá Marinalva Manoel, 27 anos, era mãe de dois filhos e pertencia à comunidade Ñu Porã, um conjunto de barracos de lona onde moram 28 famílias kaiowás.
Segurança indígena
As demandas sobre a segurança dos Guarani-Kaiowá já foram levadas de forma direta e por diversas vezes até o Ministério da Justiça mas, segundo o Cimi, nenhuma medida foi tomada.
Segundo as lideranças do Conselho Aty Guasu, em inúmeras assembleias Marinalva relatou o aumento das ameaças e das perseguições que sofria de fazendeiros locais e de pessoas contratadas por eles.
A morte da jovem, de acordo com o Conselho Aty Guasu, não foi acidental ou mera casualidade, mas sim “o resultado do silêncio das autoridades em relação a uma morte muitas vezes anunciada”.
O Cimi, em nota, manifesta sua solidariedade com o povo Guarani-Kaiowá, reafirma o compromisso na luta pela demarcação dos territórios indígenas e pelo acesso dos povos originários a uma vida digna dentro de seus costumes e tradições.
Segundo a nota do Cimi, Marinalva Manoel vive na luta da Aty Guasu e no caminhar incessante do povo Guarani-Kaiowá. “Que seus filhos colham as sementes por ela plantadas em território de Nu Porã”, conclui.